Interpretações gerais
“Braços
da minha mãe” é uma música portuguesa que contém uma carga emocional
elevada. Aborda um tema que não passa despercebido nem o é ignorado por
ninguém. Aliás, é um tema com o qual mais proximamente ou mais distantemente
todas as pessoas se identificam. Emigração. Palavra fria, cruel, triste,
desencorajadora. O desacreditar do próprio país nos seus profissionais.
A letra da música é muito forte e a melodia que a acompanha acrescenta mais
melancolia à música. O ritmo desta é calmo, mas de uma certa forma de revolta,
de inconformismo com a realidade, a expressão da saudade. Saudade. Palavra que
melhor descreve a música. Ter saudade é bom quando parte de um esforço que foi
resultado de uma escolha, ou quando é em prol de algo que ambicionamos. Mas,
esta saudade é má e cruel. É o tirar os filhos dos braços das suas mães.
A música apresenta um retardando no refrão que é o momento de ênfase da
melodia que remete para a ambição de regressar a casa. Um retardando a nível
musical, por si só, já nos faz idealizar um movimento circular, acrescentando a
ideia de “voltar” para o ceio familiar faz-nos criar visualmente um círculo que
simboliza o throwback. Por estas
razões, o regresso está representado na nossa composição visual no CD que tem
um comportamento circular. No centro deste encontra-se caracterizado o abraço
entre a mãe e o filho associados à comodidade, proteção e aconchego da família.
A música começa dizendo “chego ao
fundo da estrada”, ao fim sem solução, ao desistir de tudo, ao perder de
todas as forças, ao desaparecer da motivação. Esta ideia repercutida na melodia
encontra-se simbolizada na capa do CD quando existe um conjunto de pontos, que
simbolizam todos os emigrantes que partem do seu país, a caminhar sobre a asa
de um avião. Os pontos vão caminhando ao longo da asa até que caem no vazio. A
criação desta imagem pretende retratar a desistência do emigrante de lutar por
uma vida melhor. O rasto de pontos que vai ficando para trás reproduz a porção
de si que deixa no seu país, como a sua família, os seus amigos. Na verdade,
uma parte de si irá estar sempre onde o seu coração pretendia estar. Este rasto
também pode apresentar uma segunda interpretação: o decaimento de uma parte de
si devido a todo o sofrimento causado por o acontecimento que está a viver.
O avião foi escolhido para estar presente na capa uma vez que é o principal
meio de transporte que leva a população para o país que vai emigrar. A viagem é
o momento em que realmente caem em si na realidade que estão inseridos no
momento. Deve ser dos episódios mais difíceis de ultrapassar. Adiciona-se o
facto de os aeroportos serem os locais mais associados às despedidas, aos
regressos e à emotividade.
O céu e as nuvens na capa remetem-nos para a introspeção. O céu é algo
vago, que nos faz pensar sobre a vida e se comporta como alguém que nos ouve
sem nos por à disposição de críticas. A composição musical é ela própria um
desabafo, daí a ligação com o elemento anteriormente explicitado.
No CD, o céu também se encontra reproduzido, agora sem a presença do avião.
Neste contexto do regresso, o céu reflete o conforto e a felicidade de voltar a
estar junto daqueles que ama.
No geral, a capa demonstra o sofrimento transmitido pela melodia, e o CD a
alegria do regresso a casa.
Todas as personagens são compostas por pontos. A
explicação da utilização deste elemento básico da comunicação visual, sinteticamente,
é o facto de estes atribuírem anonimato, mas simultaneamente singularidade a
cada indivíduo. Este ponto, irá ser abordado aprofundadamente no próximo
tópico, assim como a explicação do porquê do uso da cor vermelha e preta.Composição e os Elementos Básicos da Comunicação
Quanto
à utilização dos Elementos Básicos,
optamos por destacar o ponto.
Ao dar à personagem anonimato e simultaneamente unicidade, acaba por
representar qualquer pessoa.
A música de Pedro Abrunhosa, pretende
transmitir a dor da partida de qualquer emigrante, que se encontra nostálgico
em relação a toda a vida passada perto do seu país e da sua família. Deste
modo, acreditamos que o ponto é o elemento básico que melhor pode representar o
nosso objetivo: um emigrante, cuja identidade é desconhecida (de forma a poder
adaptar-se a todos) e que vai partir para outro país em busca de uma vida
melhor (capa de cd), mas não conseguindo despegar-se da sua mãe (cd). Os pontos
aqui representam o emigrante e todo o doloroso percurso da sua partida. O
aglomerado inicial simboliza o momento da despedida, o contacto com os
familiares enquanto que, quando surge a linha de pontos, o emigrante já se
encontra isolado. A dispersão dos pontos, quando chegam ao final da asa do
avião, retratam a entrada num mundo desconhecido, o estarem desamparados e
distantes dessa realidade. Então, esses mesmos pontos pretendem refletir o quão
perdida a pessoa que vai para longe fica, a sua desorientação. Se observarmos
com atenção, a própria fotografia de fundo contém pequenos pontinhos brancos.
Estes trazem consigo dispersão, mas também simplicidade e naturalidade.
A capa ao ser elaborada por um conjunto de pontos,
torna-a cúmplice com as pessoas que a observam. Isto é, cada um pode
interpretar aquele elemento básico da comunicação consoante aquilo que sente ou
que quer imaginar, não lhe sendo imposto nenhum “objeto” conhecido. Tal como o
professor referiu em aulas lecionadas, o ponto tanto pode ser algo fofo,
querido, que simbolize amor, como algo frio, distante e maquinizado. Tudo
depende do contexto e daquilo que se pretende transmitir.
Aliada ao ponto, encontra-se a cor vermelha, uma cor quente,
que está associada à paixão e ao coração humano. Uma vez que o refrão da música
destaca o amor entre uma mãe e o respetivo filho, “Quero voltar/Para os braços
da minha mãe”, o vermelho acentua a dimensão e a força desta relação. Acrescenta-se
o facto desta cor se fazer sobressair de entre a foto que lhe serve de fundo,
sendo assim esta também tem a função de atribuir importância à pessoa que
emigra e de a focar como a personagem principal. Utilizamos a cor preta, porque
esta é uma cor associada à tristeza e sofrimento. Estes sentimentos prevalecem
no momento da partida, portanto não poderiam ficar sem representação na nossa
composição.
Para além destes dois elementos, é
visível também a linha, que
indica atividade, na medida em que os pontos que representam o deslocamento da
pessoa que parte, causam a perceção de movimento e deslocação.
A forma
está também presente na janela e asa do avião, acabando por tornar a capa mais
harmoniosa e interessante.
Por
fim, a textura também está
muito presente quando visualizamos as nuvens. Elas no seu imediato levam-nos a
remeter para o campo do toque. Algo macio, que se desfaz por tão frágil que é.
Composição e Técnicas de Comunicação Visual
Como
Dondis diria: “As Técnicas Visuais oferecem
ao designer uma grande variedade para a expressão visual do conteúdo. Existem
como polaridades de um continuum, ou como abordagens desiguais ou antagónicas
do mesmo significado.”
Tendo
em conta o anteriormente dito, não poderíamos deixar de identificar as várias
técnicas que estão presentes na nossa composição visual.
No que diz respeito ao
nosso projeto, então, as técnicas que estão presentes são o equilíbrio, a
regularidade, simplicidade, transparência, subtileza, atividade, minimização e
profundidade.
O equilíbrio
e a simplicidade surgem da
harmonia causada pelas nuvens e pelo céu, que nos dão a ideia de estabilidade,
causando um ambiente agradável, simples e, ao mesmo tempo, elegante.
Quanto à regularidade, diz respeito ao conjunto de pontos que, apesar
de se encontrarem em distâncias diferentes, com o objetivo de criar movimento,
são regulares.
A transparência
resulta do facto de podermos ver a paisagem, mas também o interior da janela do
avião estando, por isso, presente o fator de translucidez.
A subtileza
está claramente presente, uma vez que estamos perante um ambiente puro,
elegante e delicado. Desta forma, também podemos referir a minimização, uma vez
que o observador não necessita da presença de elementos extravagantes para ser
visualmente eficaz. Neste caso, os elementos são mínimos, mas de fácil
compreensão visual.
A atividade
está presente nos pontos que remetem para o movimento do individuo, bem
como na linha que este percorre, transmitindo-nos a ideia de direção e
deslocação.
Por fim, podemos referir a profundidade, que se encontra
relacionada com o seguimento dos pontos na capa que nos remete para uma
realidade mais próxima e ao nível que vão avançando nos transportam para um
distanciamento.
Composição, Teoria de Gestalt e Leis da Perceção
Fazendo
o paralelismo com outra das matérias lecionadas nas aulas, seguidamente iremos
abordar de que modo a Teoria de Gestalt
e as Leis da Perceção estão presentes na nossa composição.
Esta
lei consiste na psicologia de análise de tudo o que nos rodeia. Ou seja,
podemos observar uma composição visual e ver o seu todo ou, simplesmente,
verificar que esse todo é composto por partes interativas que podem ser
visualizadas de forma independente e com significado próprio. No entanto, nunca
descartando o facto de, no conjunto, todas as partes formam um todo.
Após uma reflexão chegamos à conclusão que as duas
leis que estão presentes na sua integridade são:
O
Fechamento: lei de Gestalt
que explica o facto do nosso cérebro tender a fechar elementos de modo a
conseguir associar aquelas determinadas composições a objetos ou realidades já
conhecidas. No caso da construção do CD, o que visualizamos são um conjunto de
pontos vermelhos e pretos, mas o nosso cérebro tende a procurar identificar
esses pontos com algo conhecido. A verdade é que, se afastarmos o CD,
verificamos que esses pontos representam duas pessoas, neste caso mãe e filho,
que estão abraçadas. Então, concluímos que apesar de a ideia ser a observação
dos pontos, das partes, e não do todo, o nosso cérebro associa as partes do
todo e automaticamente chega à realidade que lhe satisfaz a vista. Neste caso,
são as pessoas a abraçarem-se como foi dito anteriormente.
As
Experiências passadas: é a
lei que, para nós, apresenta maior relevância, uma vez que a arte é subjetiva,
muda consoante a pessoa, o seu caráter, personalidade e gostos. Neste campo
todas as experiências vividas são, sem dúvida, verdadeiros arquivos e
laboratórios constantemente prontos a ser utilizados para a produção de arte. A
capa e o CD foram elaborados consoante aquilo que sentimos enquanto grupo. Não
existe certo ou errado. É a nossa interpretação, a nossa maneira de encarar a
realidade representada.
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